O Brasil está à procura de um pretexto para normalizar suas relações diplomáticas com Honduras.
Sabe que a porta de saída é o reconhecimento do governo Porfirio Lobo, eleito no ano passado e empossado nesta semana. Só precisa de uma boa justificativa para virar a maçaneta. Idealiza um movimento coletivo, que reúna outros países.
O tema vai à mesa na próxima reunião do que Grupo do Rio, em fins de fevereiro, no México. Participam países da América Latina e do Caribe.
Antes da abertura das urnas de Honduras, Brasília condicionava a legitimidade do pleito à volta do deposto Manuel Zelaya ao cargo de presidente. Zelaya não voltou. Mas Marco Aurélio Garcia, assessor internacional de Lula, já cuida de atenuar o azedume.
"Nós, evidentemente, estamos avaliando a situação e esperando as iniciativas do novo governo", diz ele. "Como tomamos decisões coletivas naquele momento [pós-golpe], obviamente queremos analisar [essa hipótese conjuntamente]", no Grupo do Rio.
A eleição que o Brasil demora a reconhecer foi presidida por Roberto Micheletti, em quem o governo Lula pespegara a pecha de “golpista”. Micheletti se revelaria um golpista sui generis. Fora à presidência, em junho de 2009, enrolado na constituição hondurenha.
Uma constituição que, segundo decisão da Suprema Corte de Honduras, Zelaya tentara usurpar. O deposto tramara a realização de um referendo re-eleitoral. Coisa que, em Honduras, é proibida em cláusula constitucional pétrea.
Decorridos sete meses do pseudogolpe, o suposto golpista entregou a presidência a Porfirio Lobo, eleito num pleito cuja legitimidade foi atestada pela OEA.
O Brasil foi empurrado para a crise de Honduras por Hugo Chávez, o presidente da Venezuela. Em operação companheira cujos detalhes a história ainda vai contar, Chávez devolveu Zelaya a Honduras.
Em vez de bater na porta da embaixada da Venezuela, o deposto materializou-se defronte dos portões da sede diplomática do Brasil em Tegucigalpa. Só deixou a embaixada, convertida em quartel de uma fracassada resistência depois da posse de Porfírio Lobo. Foi para a República Dominicana.
Livre do hóspede, o Brasil tenta agora livrar-se dos problemas causados por ele. Algo que, sabem todos, passa pelo reconhecimento do novo governo.
Num sinal de que ensaia a marcha à ré, o Itamaraty despachou para Tegucigalpa, nesta sexta, a vice-consul do Brasil em Honduras, Francisca de Melo. Ela foi barrada no aeroporto da capital hondurenha. Em resposta ao que considerou um “erro”, o governo Porfírio Lobo demitiu o diretor de imigração. Francisca deve retornar a Tegucigalpa na segunda (1º). Vai reabrir a embaixada do Brasil, ainda sem a presença de um embaixador.
Fonte: Folha On Line - Josias de Souza
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