segunda-feira, 20 de setembro de 2010

“Eduardo Campos deverá sair das urnas como um campeão de votos”

Revista Época dessa semana* traz matéria sobre o governador: “Surfando na imagem mitológica do avô Arraes, mas com discurso moderno de gestão, Eduardo Campos deverá sair das urnas como um campeão de votos”, garantiu a publicação. Leia aqui a íntegra da reportagem.

“A senhora vai esquecer a santa, mãe?” Essa foi a pergunta de Maria Aparecida Marques, filha de Tereza Santina do Carmo, quando viu a mãe de 67 anos se desgarrar de uma procissão religiosa para seguir o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), que está em campanha pela reeleição. Distribuindo beijos e abraços, Campos guiou a primeira metade da procissão em homenagem a Frei Damião, no município de São Joaquim do Monte, interior do Estado. Ao passar por uma estrada, o governador saiu em direção a seu carro, o que gerou uma pequena confusão.

Muitos não sabiam se deveriam seguir o político ou a procissão. Tereza ignorou a filha, driblou os seguranças e bateu no vidro do carro do governador. Campos abriu a porta e pegou sua mão. “Eu rezo todo dia por vocês”, disse Tereza, entre lágrimas e soluços.

“Que Deus abençoe você e doutor Arraes.”

Campos, de 45 anos, é hoje o governador mais popular do Brasil. Em julho, a nota média de sua gestão era de 7,7, segundo o Datafolha.

É a mais alta do país. Hoje, de acordo com o mesmo instituto, ele tem 63% das intenções de voto, em comparação aos 21% de Jarbas Vasconcelos (PMDB). É o maior índice entre todos os candidatos a governador do Brasil. Campos foi ministro de Ciência e Tecnologia no início do governo Lula e um importante articulador na Câmara. Como presidente do PSB, costurou a aliança nacional com o PT e disse não às intenções de voo solo de Ciro Gomes.

Lula não esconde sua afeição pelo governador. Se as urnas confirmarem as projeções das pesquisas e Campos sair das eleições como um dos campeões de votos, ele estará pronto para alçar voo como liderança nacional.

Iniciado na política sob a sombra da imagem mitológica do avô, Campos ainda recorre a alguns métodos tradicionais da política do Nordeste, como participar de procissões para cultivar seu eleitorado. “Doutor Arraes” ou “Pai Arraes”, como parte da população se refere a seu avô, foi governador de Pernambuco três vezes.

Nascido no sertão, levou energia elétrica, direitos trabalhistas e emprego para a zona rural. Ganhou o coração dos pernambucanos quando se recusou a deixar o governo no golpe militar de 1964.

Campos mandou gravar uma placa no Palácio das Princesas para registrar que o avô só deixou o local preso. A reverência por Arraes, que já era forte, ganhou contornos messiânicos depois de sua morte, em 2005. É comum encontrar velas e fotos de Arraes em oratórios. Tereza é adepta dessa prática. Neste ano, ela batizou a foto de Campos para colocá-la ao lado da foto de Arraes no oratório de sua casa.

Para conquistar todo o Estado, porém, Campos teve de reinventar a tradição do avô.

“Ele é o novo Arraes e, ao mesmo tempo, o Arraes novo”, diz o escritor Ariano Suassuna, secretário estadual de Cultura, ao definir o governador. Seus assessores gostam de dizer que Campos importou a cultura da eficiência do setor privado. Na Segurança, criou um placar com o número de inquéritos abertos e concluídos por delegado.

Na Educação, distribui investimentos de acordo com os resultados das escolas.

Para isso, contratou a consultoria do Movimento Brasil Competitivo, do empresário Jorge Gerdau, que auxilia Estados a aumentar receitas, diminuir despesas e trabalhar com planejamento.

Campos costurou a aliança do PSB com o PT e disse não às pretensões nacionais de Ciro Gomes

Esse estilo facilitou a aproximação com a iniciativa privada. Seu governo gaba-se de ter atraído a Refinaria Abreu e Lima, o Estaleiro Atlântico Sul, a Perdigão, a Sadia e um polo farmacoquímico. Só no Complexo Industrial do Porto de Suape, são 27 novas empresas e mais 15 em instalação. A atração de capitais é responsável pelo crescimento de empregos em Pernambuco: 4,8% ao ano, enquanto a média nacional foi de 3,1%.

Campos fez a primeira Parceria Público-Privada (PPP) para a operação de uma rodovia no país e articula um complexo penitenciário privado.

A oposição diz que os investimentos já estavam engatilhados quando Campos assumiu.

“Ele deu sorte”, diz Mendonça Filho, ex-governador e presidente do DEM de Pernambuco. “Pegou contas ajustadas, um momento favorável e teve ajuda do presidente Lula.” Pernambuco foi um dos Estados que mais receberam investimento federal nos últimos quatro anos.

As denúncias não parecem colar em Campos. Em 2009, o secretário de Turismo estadual caiu depois de acusação de superfaturamento. A Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico também foi acusada de desvios. Em agosto, o Ministério Público entrou com ação para suspender a expansão do Complexo Industrial de Suape devido aos impactos ambientais. Mendonça s também acusa Campos de cooptação política. “Ele condiciona verbas de convênios ao apoio de prefeitos e deputados”, afirma.

“Não se trata de cooptação, mas reconhecimento a uma forma de fazer política”, diz Campos, em resposta. Ele ostenta, hoje, 15 partidos em sua base e conta com o apoio de 161 dos 184 prefeitos do Estado.

Dos 17 prefeitos do PSDB, 14 estão com ele. Campos diz que saber articular foi a primeira lição que aprendeu como político. No último ano da faculdade de economia, engajou-se em uma das campanhas políticas do avô e tornou-se responsável pelo contato com as forças locais do interior. “Visitava todos, aliados ou não”, diz. “Eu ia lá, tomava meu cafezinho e fazia minha atividade. Aprendi que são as ideias que disputam, não as pessoas.”

A boa relação com as lideranças políticas locais foi essencial em sua primeira eleição para governador, em 2006.

No início da campanha, ele tinha 6% das intenções de voto. Sofria oposição dentro do próprio PSB, que queria fechar aliança com o PT. “Insisti porque a base não aparece nas pesquisas”, afirma.

“A vitória de Eduardo (em 2006) foi uma surpresa”, diz o cientista político Túlio Velho Barreto, da Fundação Joaquim Nabuco. O PSB estava em baixa desde que Arraes perdera para Jarbas a disputa pelo governo estadual em 1998 por mais de 1 milhão de votos. “Campos projeta imagem diferente de Arraes, que era ícone da esquerda de outro tempo, muito nacionalista e estatista”, afirma. Nos dois mandatos pós-ditadura, Arraes governou isolado depois de romper com os presidentes José Sarney e Fernando Henrique Cardoso. Campos é mais flexível que o avô. Tem hoje, em sua base, representantes do grupo ao qual sempre fez oposição, como os deputados Inocêncio Oliveira (PR) e Armando Monteiro Neto (PTB).

Quando interessa, ele parece hábil em se descolar do avô. Num debate na TV, quando Jarbas o atacou citando problemas financeiros deixados por Campos quando era secretário da Fazenda de Arraes, o governador respondeu assim: “Não estou interessado nessa rinha que Jarbas começou no século passado com meu avô”.

Embora com discurso e práticas diferentes, a tradição do avô foi fundamental para a vitória de 2006. Nesse ano, Campos sofreu ataques por seu envolvimento no escândalo dos precatórios em 1996, processo que foi arquivado. Como secretário da Fazenda, foi responsabilizado pela emissão de títulos, com base em dívidas judiciais com valor superfaturado. Para se blindar, contou com a ajuda de Suassuna. O escritor subia no palanque para puxar o hino “Madeira de lei que cupim não rói”.

A música simbolizava a força da tradição sertaneja e popular, da qual Arraes foi ícone.

Os versos Queiram ou não queiram os juízes/O nosso bloco é de fato campeão eram uma referência a processo que corria contra Campos.

Dudu, como é chamado pelos amigos e familiares, cresceu sob os cuidados da família de Suassuna. Ele nasceu dois meses depois de o avô sair do país, exilado. Seus pais casaram em uma base militar para que Arraes, então preso, pudesse participar.

A família ficou isolada no Recife. Quem se aproximasse muito era suspeito de subversão.

Campos, que não leva o sobrenome Arraes, passou os primeiros anos de vida em uma fazenda no interior. Aos 4 anos, a família voltou para o Recife e se instalou na casa em frente à de Suassuna. Na escola, desabituado do convívio com outras crianças, fugia para a sala da filha de Suassuna, a única que ele conhecia, mas que estava dois anos à frente.

Acabou ficando na turma dos mais velhos, dando início a uma trajetória precoce em tudo.

Aos 16 anos, entrou na faculdade. Aos 18, era presidente do diretório acadêmico.

Aos 21, virou chefe de gabinete do avô. Aos 25, foi eleito deputado estadual. Aos 29, federal. E, aos 31, secretário da Fazenda.

Assíduo nos jantares da casa de Campos, Lula costuma cantar com violeiro nessas recepções

Parte de sua equipe, hoje, é a mesma de Arraes. Muitos precisam se policiar para não chamar o governador de Dudu. Segundo Suassuna, entre os íntimos, Campos gosta de fazer imitações e contar causos. Como governador, bate na mesa com o punho fechado quando fala de seus planos. A cada 15 dias reúne os secretários para fazer monitoramentos. As vésperas desses encontros são apelidadas de “tensão pré-monitoramento”.

Em casa, Campos faz o tipo moço de família. Casou-se com a primeira namorada, Renata, que tinha desde os 15 anos. O casal tem quatro filhos. A família mora em casa construída no terreno dos pais de Renata. O jardim da casa do governador é colado ao terreno de seus sogros. As recepções acontecem na varanda. O convidado mais ilustre e, segundo Renata, cada vez mais frequente é o presidente Lula. “Ele e Eduardo vão até tarde. Às vezes, o Lula canta com um violeiro.” Dilma Rousseff também frequenta os jantares. É uma proximidade que mostra que Campos deverá continuar a influir na política nacional nos próximos anos.

*Fonte: http://revistaepoca.globo.com/EditoraGlobo2/Materia/exibir.ssp?materiaId=172699&secaoId=15223

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