segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Entrevista com Roberto Amaral, sobre os 64 anos do PSB

Defensor do socialismo democrático, o PSB (Partido Socialista Brasileiro) completa este mês 64 anos em grande estilo. É o partido de esquerda da base aliada do governo com mais chances de dobrar de tamanho, contando inclusive com candidaturas de empresários de peso.

São os casos de Paulo Skaf, ex-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e candidato a governador, e de Mauro Mendes (MT), o mais rico dos concorrentes nas disputas de governos estaduais.

O socialismo do PSB aderiu ao capitalismo? Quem responde é o vice-presidente nacional do partido, Roberto Amaral, ex-ministro de Ciência e Tecnologia no primeiro governo Lula, invertendo a pergunta. "A presença de empresários no partido não significaria também que eles aderiram ao socialismo?", e justificou: "Ao contrário dos neoliberais, nós defendemos a empresa brasileira, o capital nacional. O fundamental é o eixo do partido e se essas pessoas estão fiéis a esse eixo".

No eixo das propostas do partido, estão a taxação de grandes fortunas, o apoio aos sem-terra e a redução da jornada de trabalho, temas repudiados pelas entidades empresariais.

Para estas eleições, o PSB tem candidatos competitivos em oito estados - o dobro do atual número de governadores - , espera eleger seis senadores - quatro a mais do que em 2006 -, e passar de 30 para 40 deputados federais. De quebra, o partido tem 309 prefeituras, inclusive em capitais importantes, a exemplo de Belo Horizonte e Curitiba.

Confira os principais trechos da entrevista exclusiva ao DCI:

Neste mês de agosto, o PSB completa 64 anos de história. O que o partido tem a comemorar?

Sobretudo a sua coerência. O grande legado do partido foi a coragem de, em 1945, levantar a tese do socialismo democrático, uma tese vitoriosa no início do terceiro milênio. Fizemos evidentemente opção eleitoral, não fizemos nenhuma concessão ideológica. Isso a sociedade, o eleitorado brasileiro compreendeu e está dando respostas nas eleições.

O que o PSB espera dessas eleições?

Uma delas é o comprometimento de todos os partidos com fortalecimento do processo democrático, de sua consolidação. O comunismo, o udenismo, o chamamento às casernas, está definitivamente afastado do processo histórico brasileiro. A outra coisa que espero é assegurar a continuidade do nosso poder de governo, uma social-democracia de esquerda, avançando. É o que pretendemos com o governo de Dilma [Rousseff, presidenciável do PT].

O sr. concorda com a avaliação de que o PSB está herdando o espólio do DEM no nordeste?

Não é isso, não. O espólio do DEM está caminhando para o suicídio. O PSB sempre foi forte no nordeste. Não esqueça que o nosso ex-presidente era o governador Miguel Arraes. Tinha uma liderança forte não só em Pernambuco, mas em todo o nordeste. O que está ocorrendo é o processo de consciência das massas. As grandes massas passaram a ter rompimento dos processos tradicionais, assistencialistas, proporcionado pelas políticas de inclusão do governo. Essas massas se livraram do coronelismo e passam a ter um posicionamento eleitoral independente. Isso é um dos frutos do Bolsa-Família e das políticas de inclusão que libertaram o homem do campo.

Por que o PSB prega o fortalecimento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-terra), se a candidata do PT já disse que não vai aceitar invasões de terra?

São duas questões diferentes. Uma é o programa geral da candidata, que tem de discutir o quadro das alianças dos partidos que dão apoio a ela. Ou seja, ela é uma candidata de coalizão. Portanto, o programa tem de ser de coalizão. Não pode ser um programa do PSB, nem do PMDB, nem do PT. O nosso papel é defender as nossas teses.

Mas o MST, com essas invasões, não é uma ameaça à propriedade privada?

Não estou preocupado em defender a propriedade privada. Estou mais preocupado com o sentido social da propriedade, como está na Constituição. Ela tem remédios para qualquer infração. Isso é do ponto de vista legal. O que nós estamos dizendo é que o movimento social tem de ser tratado com diálogo. O MST é um movimento tão legítimo quanto o movimento ruralista. E ninguém chama a polícia contra o movimento ruralista, e eu nem sei por quê. Ao contrário, quando eles deixam de pagar os bancos oficiais, tem sempre alguém que apresenta uma emenda no Congresso para anistiar os devedores.

Outra proposta polêmica do PSB é a taxação de grandes fortunas. Por que ela foi apresentada?

Isso é uma proposta conservadora. Isso existe no mundo inteiro. E é um instrumento de distribuição de renda. O que nós queremos é que o Brasil chegue ao nível das grandes democracias da Europa, como a Suécia, como a Noruega. Esse é o nosso marco em que a distância entre o maior e o menor salário tende a diminuir. Aqui é o contrário. O PSB também defende a redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas, o que constava na primeira versão do programa da Dilma e foi retirado a pedido do PMDB. É a posição do movimento sindical brasileiro. É possível. Sempre que há qualquer benefício para os trabalhadores, aparecem os argumentos neoliberais dizendo que vai quebrar isso, vai quebrar aquilo. Não quebra nada. Nós estamos com o salário mínimo de US$ 300. E era um crime quando nós falávamos há alguns anos atrás para tentar aproximá-lo de US$ 100. Reduzir a jornada não fecha nenhuma empresa. Ao contrário, vai aumentar a produtividade.

Essa taxação das grandes fortunas poderia afetar alguns dos candidatos a governador do partido, a exemplo de Paulo Skaf (SP) e Mauro Mendes (MT), que têm fortunas de mais de R$ 10 milhões?

Eles vão pagar imposto. Qual o problema?

Agora, essa presença de empresários poderosos no partido indicaria que o socialismo do PSB teria aderido ao capitalismo?

Aí eu inverto. A presença de empresários no partido não significaria também que eles aderiram ao socialismo? Nós não somos contra o empresariado brasileiro. Ao contrário dos neoliberais, nós defendemos a empresa brasileira, o capital nacional. Não vejo contradição. O fundamental é o eixo do partido e se essas pessoas estão fiéis a esse eixo.

Por falar em Skaf, houve uma reação dos socialistas do grande ABC em relação ao ofício do partido que obrigou os filiados que ocupam cargos eletivos e os candidatos a apoiar a candidatura dele. A deputada federal Luiza Erundina reagiu e disse que não vai votar nele. Ela poderá ser punida?

Não acho que ela possa, nem creio que deva ser punida. Compreendemos a posição dela e vamos construir o que é mais importante nessas eleições, que é a nossa bancada e a eleição da Dilma.

O deputado Ciro Gomes (PSB-CE) esteve na última semana com Dilma, mas não se comprometeu a gravar programa com ela. A cúpula pode pedir isso a ele?

Não sei o conteúdo da conversa. O que nós temos dito é que o Ciro é do quadro partidário. Ele tem dito a mim e ao governador Eduardo Campos (PE) - presidente do partido - que vai seguir a orientação partidária. Mas não temos fita métrica para medir a intensidade da participação de cada um na campanha da Dilma. Então, cada um participa da forma que mais lhe aprouver, porque política tem de ser feita com felicidade e com alegria.

Em alguns estados, o PSB disputa o governo com partidos aliados de Dilma e do Lula. Qual o tratamento que o partido espera da candidata?

O que está acertado entre as partes é que todos os candidatos da base governista serão tratados em igualdade de condições. E disso nós não vamos abrir mão. Ela terá de ir aos dois palanques.

http://www.dci.com.br/noticia.asp?id_editoria=14&id_noticia=336586

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