terça-feira, 16 de março de 2010

PT em São Paulo é um "desastre", diz Ciro

Matéria publicada em 15 de março de 2010

Deputado afirma que partido precisa de nome novo para sucessão de Serra, mas considera sua candidatura no Estado artificial

Ciro defende que PT e PSB tenham candidatos próprios em SP; deputado diz que fará aproximação entre PSDB e petistas se eleito presidente

O deputado federal e ex-ministro Ciro Gomes (PSB), 52, é popular no Rio de Janeiro. Num táxi, discute com o motorista a filiação de Romário ao PSB e escuta, atento, a recomendação de lançar Zico, "que nem precisaria de campanha".
Com uma truculência à mídia arrefecida -ou dominada depois de disputar duas campanhas à Presidência -, um Ciro "mais sereno", como ele se classifica, falou à Folha sobre a sucessão presidencial e no governo de São Paulo.
Ele admite que sua candidatura em São Paulo seria artificial e volta a dizer que será candidato à Presidência da República. Ao final da entrevista, com o gravador já desligado, Ciro confessa que, se não disputar a eleição de outubro para presidente ou para o governo de SP, deixará a política.

FOLHA - O sr. afirmou na semana passada que São Paulo não precisa do sr. São Paulo precisa de quem?
CIRO GOMES - Fulanizar a política é algo ridículo no Brasil. São Paulo precisa de um projeto porque a eficiência medíocre do PSDB deu o que tinha que dar. Os indicadores de violência estão crescendo, o transporte está colapsando, a educação é uma das piores do país. Agora, como o PT é um desastre, lá em São Paulo especialmente, eles têm essa eficiência medíocre posta em relevo.

FOLHA - Por que o sr. considera o PT um desastre em São Paulo?
CIRO - Por tudo o que aconteceu. Estou falando do desastre de confiabilidade, de confiança da população a ponto de o próprio PT, na minha opinião corretamente, pretender lançar um candidato jovem lá, para fazer nome. Os principais quadros do partido [o PT], justa ou injustamente, entraram num problema. Não é brincadeira não, rapaz. José Dirceu, Genoino, Mercadante, Marta, João Paulo. Não é brinquedo não.

FOLHA - O PT pretendia lançar o sr. no Estado.
CIRO - Eu fico muito honrado, distinguido com isso, mas veja bem, não é tão artificial essa solução, não?

FOLHA - Então se o sr. for candidato ao governo de São Paulo será uma solução artificial?
CIRO - A minha candidatura naturalmente é artificial. Agora, o que eu poderia fazer -e tinha que ser sincero e franco com a população de São Paulo- era dizer: "Eu não faço rotina aqui, mas acumulei uma experiência de grande sucesso na administração pública, e essa experiência eu me disponho a colocar a serviço de São Paulo". Não é minha pretensão. Todo mundo sabe e eu repito que minha intenção é ser candidato à Presidência.

FOLHA - O sr. trabalha por alianças do Paulo Skaf com o PT, por exemplo? O sr. vê possibilidade de uma chapa Aloizio Mercadante e Skaf?
CIRO - Eu não veto, não atrapalho, não opino contra, mas acho que a melhor opção é o PT ter o seu candidato e nós, o nosso.

FOLHA - O sr. diz que é o único a ter liberdade para fazer críticas ao governo do presidente Lula. O debate sobre o papel do Estado, com viés antiprivatização, é equivocado?
CIRO - Não, a questão não é que esteja equivocado. Embora o Serra tenha sido capaz de quebrar patentes no Ministério da Saúde na questão do coquetel antiaids, ele chega em São Paulo e privatiza a conta da prefeitura, hospeda num banco privado. E, em seguida, bota a Nossa Caixa para vender, um dos últimos ativos que São Paulo tem. Em relação à Dilma eu tenho a vivência que ela não tem.

FOLHA - Mas qual é sua posição sobre privatização e papel do Estado?
CIRO - Isso tudo é baboseira ideológica. No mundo inteiro a experiência empírica demonstra que o Estado não é máximo, nem mínimo, nem grande, nem pequeno. É o necessário. É a lei do menor esforço. Quem faz melhor, mais rápido e mais barato é quem vai fazer. Às vezes é Estado regulador, às vezes tem que ser empresário. A economia moderna é mista, mas a responsabilidade pela dinâmica estratégica de um país é do Estado.

FOLHA - O sr. sempre menciona eventuais problemas de governabilidade do futuro presidente, dado que ninguém terá o capital político e a popularidade de Lula, que faz com que ele transite bem no Congresso.
CIRO - Mais que transitar. Ele suporta, sem perder legitimidade. O que é um fenômeno absolutamente raro. Se a coalizão for essa, com o protagonismo desta banda do PMDB que manda no país [haverá crise de governabilidade]. O DEM é muito melhor que o PMDB neste instante. Uma questão é um escândalo, no qual todos nós estamos vulneráveis a ter um companheiro que vai entrar numa dessa. Todos nós. Isso é da política. O problema é que o PMDB, não o coletivo, mas a banda hegemônica, faz desta linguagem o seu instrumento central de luta.

FOLHA - E como se governa o Brasil com a atual condição de representatividade e o atual sistema político?
CIRO - É uma ilusão de ótica que a prostração moral do PT está passando para o país. O problema da situação política da Dilma é que ela fica com a boca travada. Ela não pode falar isso para ninguém. Como o Serra também não pode. Eu posso. Imagino governar o Brasil assim: eu encerraria a violenta, paroquial e provinciana radicalização que opõe PSDB e PT. Convocarei um entendimento nacional entre os dois partidos. Essa é a saída para o país avançar e diminuir a importância de setores clientelistas, fisiológicos, atrasados, corruptos.

FOLHA - Fazendo uma revisão da história de 2002, o mercado ainda teme sua candidatura?
CIRO - Teme, mas é injusto. Eu não sou uma invenção. Eu já fui ministro da Fazenda. Eu fui muito bom para a economia pelos resultados. O país cresceu 5,3%, tivemos superavit primário de 5% do PIB, inflação zero. Agora, tive algumas questões. Fiz a intervenção do Banespa e do Banerj. Fiz a abertura comercial que dissolveu vários cartéis. Tudo bem, a vida é dura. Eu não vou vender a minha alma para ser presidente.

FOLHA - O sr. já sofreu uma oscilação fortíssima nas pesquisas em 2002. Todos os políticos não estão sujeitos a isso?
CIRO - Sim, isso eu acho. Acho que a Dilma cometerá um erro, porque nenhum de nós escapou. O Lula cometeu, eu cometi, o Serra, o Alckmin cometeu. Ela cometerá. Tomara que não. E vai oscilar. Ela é um pouco mais vulnerável, claro. Porque na medida em que você erra, você aprende. O Lula aprendeu para caramba. Eu aprendi muito. O Serra erra menos porque é protegido pela grande mídia.

Frases

"Eu fico muito honrado, distinguido com isso [convite para disputar governo de SP], mas veja bem, não é tão artificial essa solução, não?"

"Como o PT é um desastre, lá em São Paulo especialmente, eles [o PSDB] têm essa eficiência medíocre posta em relevo"

"O problema da situação política da Dilma é que ela fica com a boca travada. Ela não pode falar isso para ninguém. Como o Serra também não pode. Eu posso Eu não vou vender a minha alma para ser presidente"

CIRO GOMES
deputado federal
http://www.psbnacamara.org.br/mid_det.asp?id=793
(Folha de São Paulo)

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